"Sou investidor na Bolsa e não gosto de apostar em acções que subam muito, rapidamente, porque em seguida também costumam descer muito"
Por ANTÓNIO TAVARES-TELES, in jornal "O Jogo"
João Eusébio: sinceramente, conhecia muito pouco deste homem que, sem aquele ar de treinador “up to date” ou de teórico encarnado da bola, conseguiu, no meio de um discurso aparentemente pouco elaborado mas objectivo, seguro, eficaz e, indubitavelmente inteligente, levar o seu Rio Ave a uma posição quase indestrutível no que diz respeito ao acesso à I Liga. E no entanto nem começou lá muito bem a época. Mas está a acabá-la bem, e é isso que importa. Boa aposta pois do presidente vilacondense, Paulo Carvalho.
- Que é que se passa? Faltam cinco jogos para o final do campeonato e tem 8 pontos de avanço sobre o 3º classificado – o Guimarães. Subida praticamente assegurada, portanto...
- (ri) Não, isso não, há ainda 15 pontos em disputa. Como temos 8 de avanço, isso quer dizer que temos apenas um pouco mais de 50 por cento de probabilidades de subir, é o que dizem as estatísticas. E como há muitos colegas meus que gostam de falar em estatísticas, eu também falo...
- Recebe no próximo fim-de-semana o Portimonense, que não me parece que seja um adversário muito difícil...
- Não é difícil?! É, claro que é, porque está a precisar muito de pontos e porque ultimamente, até está em ascensão.
- Em seguida, vai a Guimarães...
- Sim, e nesse jogo pode acontecer tudo: pode dar para o Guimarães reduzir a diferença que nos separa, tal como pode dar para que nós possamos atingir nesse dia o nosso objectivo.
- No início da época acreditava que, nesta altura dos acontecimentos, estaria tão bem situado?
- Para ser sincero, logo na pré-época sentimos que tínhamos equipa para subir. E foi isso que assumimos internamente.
- Mas a época nem começou bem...
- Não, mas só em matéria de resultados, porque a nossa produção foi sempre boa. E sempre acreditei que, se fôssemos capazes de mantermos os nossos princípios de jogo e a nossa identidade, os resultados também acabariam por aparecer, mais cedo ou mais tarde.
- O João Eusébio foi portanto uma boa aposta do Paulo Carvalho...
- (ri) Sim, creio que sim, e tenho de agradecer ao Rio Ave, na pessoa do seu presidente, essa aposta que fizeram em mim.
- Iniciou-se no Rio Ave como treinador?
- Não. Como treinador, tenho por exemplo duas subidas pelo Bragança, onde num dos anos em que lá estive chegámos aos quartos-de-final da Taça, tendo sido eliminados pelo FC Porto.
- E, estando a coordenar o futebol jovem do Rio Ave, foi chamado para ser o adjunto do António Sousa, é isso?
- Não, eu era, como diz, o coordenador do futebol jovem do Rio Ave, mas não fui adjunto do António Sousa. Quando ele saiu é que eu passei a ser o treinador principal do clube.
- Desculpe lá a minha ignorância, mas... Outra coisa: tem o curso de treinador?
- Tenho o curso de nível 4, e o nível 4 Pro-UEFA, atenção. Para além disso, tenho também o curso de formador de treinadores e em Bragança fui director-pedagógico do 1º nível e, depois, do 2º. Podendo mesmo dizer-lhe que comecei a tirar o meu curso para treinador – do 1º nível, pois – em 1982, está a ver... Tinha, creio, 23 anos.
- Mas foi um jogador fraquito, ou não?
- Dependo do critério, porque até subi quatro vezes de divisão com o Rio Ave, e depois uma com o Bragança.
- É um treinador sem efes e erres, sem gravatas vistosas, dizem que não é bem falante...
- Olhe, para além de estar neste momento a frequentar um curso superior, sou sempre o primeiro em matéria de investigação, de procura de informação. E depois creio que sei passar da teoria à prática, como se tem visto.
- É de Caxinas...
- Sim, tal como o André e o Paulinho Santos, mas a minha família não está ligada à pesca: tem um negócio.
- O contrato acaba agora?
- Acaba, embora estejamos a planificar a próxima época. Embora para já o principal não seja eu mas sim renovar com os jogadores que nos interessam e encontrar outros que também nos interessem. O resto...
- Até onde sonha chegar?
- Tal como o meu objectivo é ganhar jogo a jogo, quanto à minha carreira a minha filosofia é exactamente a mesma: subir patamar a patamar. Sou investidor na Bolsa e não gosto de apostar em acções que subam muito rapidamente, porque em seguida também costumam descer muito. Gosto de subir com consistência.