Como rampa de lançamento para a discussão sobre o que deve ser a abordagem da próxima época pela parte do
Rio Ave, há que olhar com seriedade para alguns dados factuais do que aconteceu em 2006/07, analisando eventuais erros para evitar a sua repetição no futuro. A psicanálise tem de começar pelo esclarecimento, de uma vez por todas, sobre qual era o grande objectivo do
Rio Ave. Vamos por partes:
- Claro que o orçamento foi reduzido em face da descida de divisão, que aconteceu já com o actual técnico ao leme. É uma constatação "lapalissiana". No entanto, a estrutura do plantel foi mantida e manteve-se indiscutivelmente competitiva.
- Tendo à disposição jovens com a qualidade de Fábio Coentrão, André Vilas Boas ou Vítor Gomes, era evidente que estes teriam muito tempo de jogo ao longo do ano. Fosse o treinador o João Eusébio ou o Manuel Joaquim. Agora que valorização foi feita do António, André Serrão ou Fábio Faria? Já agora, como foi possível deixar a nossa defesa ir ao fundo pelo lado direito perante a clara inadaptação do Ricardo Jorge, não aproveitando o André Serrão?
- Sobre os resultados desportivos, e frisando-se novamente que foi mantida a estrutura essencial do plantel que actuava no escalão principal em 2005/06 e desceu de forma imerecida e inglória, as declarações dos elementos da estrutura do Rio Ave falam por si:
12 de Julho: Laércio-- Quais os objectivos para este novo passo na sua carreira?
-- Quero apresentar muito empenho e determinação para fazer um bom campeonato e colocar o Rio Ave no seu lugar, que é a Liga principal.
13 de Julho: Paulo Carvalho“Pelos atletas que o Rio Ave possui, temos esperança de fazer mossas no campeonato, o que poderá até resultar na subida."
14 de Julho: Evandro"Tenho uma dívida para com o clube. Tanto eu como todos os que transitaram do plantel da época passada. Foi uma temporada infeliz. Vamos ter de fazer o máximo para colocar o Rio Ave de novo na Liga principal. É uma questão de honra para nós."
16 de Julho: João Eusébio"Gosto de ter objectivos bem definidos e a minha convicção é esta: a equipa técnica do ano passado e boa parte do plantel têm uma dívida para com o Clube e o nosso objectivo é saldá-la."18 de Abril: João Eusébio- No início da época acreditava que, nesta altura dos acontecimentos, estaria tão bem situado?
- Para ser sincero, logo na pré-época sentimos que tínhamos equipa para subir. E foi isso que assumimos internamente.6 de Maio: João Eusébio"Nós sabiamos qual era o nosso objectivo: era fazer uma época tranquila. Em termos de resultados desportivos era esse. Só que nós conseguimos pontos. Jogo a jogo, sem ninguém dar por nós, e lá fomos. Quando chegámos a uma posição na qual não podiamos falhar, foi quando falhámos."
18 de Maio: João EusébioJoão Eusébio não assume saída. "A minha posição está tomada, cabe ao clube resolver." Fala de "objectivos cumpridos,
a subida não era planeada, mas sim reduzir o orçamento e lançar jovens da formação."
20 de Maio: João Eusébio:"Temos alguma angústia por não conseguirmos o objectivo da subida."
Como facilmente repararão, o que salta à vista são as
incongruências no discurso do nosso treinador, João Eusébio, dado que todos os restantes intervenientes assumiram sempre que o objectivo era a subida. E fizeram bem, porque o
Rio Ave deve traçar fasquias ambiciosas. E era possível fazer muitas outras citações.
Quanto ao técnico, a
16 de Julho prometia "
saldar a dívida" da descida. A 18 de Abril, em entrevista ao Jornal O Jogo que ilustra esta posta, revelava que a subida de divisão sempre foi o "
objectivo assumido internamente". Após a derrota com o Gondomar, a 6 de Maio, deu-se a inflexão, com o regresso da "época tranquila" e da aposta nos "jovens da formação" como desculpas de mau pagador para o segundo fracasso em dois anos.
Perante os factos indesmentíveis que são as declarações efectuadas ao longo da época, será interessante ouvir a entrevista de João Eusébio à Rádio Linear (hoje, pelas 18 horas). Mas, quando aos microfones daquela estação, ferozes críticos do futebol rioavista como sempre foram o Paulo Vidal e o Gualter Macedo, começam a falar "em carinho" pelo actual treinador como eventual razão para a sua continuidade, o mínimo que se pode dizer é que há quem esteja a perder a objectividade.
Meus amigos, os superiores interesses do clube estão acima de tudo. Estamos a falar de futebol profissional e, se o João Eusébio é tão bom na formação, terá sempre lugar na estrutura do
Rio Ave. Agora, para 2007/08, e tendo em conta que o
Rio Ave liquidou o passivo e começa do zero,
é preciso assumir a subida de divisão como objectivo desportivo primordial, dado que se a formação continuar a produzir talentos de elevado calibre a sua integração acontece com toda a naturalidade. Todos os que ficarem, ou vierem para Vila do Conde no defeso, devem saber com clareza o que lhes será exigido. Se somos grandes, e os outros emblemas nos vêem como candidatos, estamos com medo de quê? Aliás, com o Carlos Brito sempre foram lançados jovens e reforços de escalões inferiores sem que isso servisse de desculpa para nada.
Com João Eusébio ou outro treinador qualquer, não queremos é voltar a morrer na praia pelo terceiro ano consecutivo. Presidente e Paulo Fangueiro, decidam bem.